A miséria em quarto crescente
Irm Antônio do Carmo Ferreira (*)
Os maiores
jornais do Brasil, na edição de 5/11/2014, ocuparam a página de rosto para
noticiar que ainda neste mês a gasolina e combustíveis terão seus preços
aumentados de 4 a 5%. Não arriscam o dia certo para o aumento, também comentam
que segundo afirmara uma das grandes dirigentes da principal estatal do ramo:
“preço de combustível não se anuncia, se pratica”.
Mas é preciso
todos estarmos atentos, porque aumentar o preço da gasolina resulta num
confisco da renda não só de quem possui carro, porém de todos os brasileiros.
Pois todos os preços sobem, em face dos custos dos transportes que serão
repassados, para os produtos e para os serviços. Ninguém escapa.
Aí a inflação
se danará a crescer. O poder aquisitivo se corroi. E os pobres, sem correção da
renda que já é uma ninharia, ficam mais pobres. A capacidade de poupar encurta.
Tende pra zero. E como o investimento é função da poupança, estagna a produção.
Vejam em que deságua essa desventura:
num PIB decrescente, como está ou como se lhe denominam – num pibinho. Menos
postos de trabalho, e tome desemprego, gente!
Esse negócio
de pibinho não é surpresa entre nós, nem novidade. Até ministro da fazenda,
dizem todo dia, não terá permanência confirmada no governo que em breve
começará. Mas ele teria alguma culpa? Aliás, há um mês comentava a imprensa que
fora abortada a divulgação de uma pesquisa do IPEA que então deveria ter sido
publicada. Também se dizia que tal proibição teria levado dirigentes daquele
Instituto a se afastarem dos cargos.
Os jornais de
hoje mostram o porquê da proibição. Mostram sem especulação, porque registram
de forma bem mais evidente, sem sofisma diriam os filósofos – “cresceu a miséria no Brasil”. Uma
tristeza danada, porque se propalava por tudo que era de veículo de comunicação
que a palavra pobreza tinha sido deletada do dicionário da Língua Portuguesa no
Brasil.
Nenhum país,
no mundo, se desenvolveu senão investindo fortemente no setor secundário da
economia – no setor industrial. É preciso educar o povo para que ele entenda
isso e adquira competência para exigir esse projeto nacional..
Vale este
alerta. Porque já se tornou cíclica essa história que se alardeia de 4 em 4
anos. No período de cata aos votos, anuncia-se que o povo saiu da miséria.
Milhões e milhões de pessoas. Que bom que fosse verdade! Mas depois da fala das
urnas, vem a verdade, como essa que os jornais ora revelam – “miséria
crescente”.
“O IPEA disponibilizou, ontem, dados que
vinha mantendo sob sigilo e que mostram o aumento do número de miseráveis no
país em 2013. A alta de 3,68% no número de miseráveis fez com que o percentual
de extremamente pobres passasse de 3,6% para 4,0%. Em outubro, o diretor de
políticas sociais do instituto, Herton Araujo, colocou seu cargo à disposição
por discordar da decisão do IPEA de não divulgar essas pesquisas, enquanto
durar o período eleitoral”. (JC 06/11/2014 – 1º CAD).
Agora, é
rezar, para que a miséria no Brasil não tenha o destino da lua que depois do
“quarto crescente” vai a “plenilúnio”!
(*)
Antônio do Carmo Ferreira é economista.