quinta-feira, 6 de março de 2014

6 DE MARÇO E A CONSTRUÇÃO DA PÁTRIA
Irm Antônio do Carmo Ferreira(*)
 
A história da conquista da liberdade é escrita a tinta-sangue e à custa de muito sacrifício. Qualquer que seja o significado de liberdade, embora aqui me refira a que tem a ver com a emancipação política, com a soberania. No Brasil foi assim. Nas colônias espanholas, nossas vizinhas, também foi assim. A independência se construiu com a vida dos idealistas e heróis que se sacrificaram em nome de uma pátria para seu povo.
 
Não se passe a ilusão de que a independência nos tenha vindo mansa e pacificamente. Não. O nosso sofrimento foi muito grande. A qualquer sonho, a reação da coroa foi impiedosa e imediata. Bernardo Vieira de Melo, em 1710, deu o primeiro grito de república nas Américas, em Olinda, no Senado da Câmara. Não era uma revolução. Era um sonho só ... Terminou seus dias nos calabouços do Limoeiro, sede da metrópole.
 
Felipe dos Santos também teve suas idéias libertárias. Ganhou a morte, com o seu corpo amarrado a cavalos, dilacerado nos calçamentos de sua cidade. Depois, ainda em Minas, o grupo da “Inconfidência”, que falou alto, marcando fundo a história da formação da pátria. Não chegou a realizar o sonho, mas legou às gerações pósteras o exemplo de quanto é sublime lutar pela liberdade, resultando a figura de Tiradentes – Joaquim José da Silva Xavier – enforcado e seu corpo, em pedaços, espalhado na região.
 
Todavia, Pernambuco superou a todos em termos de sacrifício, decerto porque tenha ido mais longe e mais profundo na busca de uma pátria para os brasileiros. A Revolução de 1817 não era apenas um feito pela independência. Era a emancipação política com república. Uma pátria para os brasileiros e por eles governada. Resultado imediato, segundo martirológio escrito pelo padre Dias Martins em 400 páginas (Mártires Pernambucanos, edição de 1853), 628 pessoas oprimidas e sacrificadas. Toda uma geração formada em Universidades européias e no Seminário de Olinda foi eliminada.
 
A Revolução Republicana de 1817 teve seu início no século anterior, a partir do Areópago de Itambé que Arruda da Câmara e vários outros brasileiros intimoratos implantaram, vizinho a Goiana, nos limites com a Paraíba. 6 de março de 1817 foi o produto do que se semeou em Itambé, no Areópago. A liberdade doutrinada por maçons sob a orientação do sábio Arruda da Câmara que se formara em medicina e na Arte Real  em Montpellier na França. Os sonhos de liberdade voltaram com ele que fundou o Areópago em 1796, e que teve as suas portas cerradas em 1801, para que, em seguida, já multiplicado, ressurgisse nas “academias” (Suassuna dos maçons Cavalcanti de Albuquerque e Caneca, e Paraíso dos maçons João Ribeiro e Muniz Tavares), nas “universidades” do Recife e de Igarassu, no Seminário de Olinda (do maçom bispo Azeredo Coutinho), nas Lojas Pernambuco do Oriente e do Ocidente (dos maçons Domingos José Martins e Antônio Gonçalves Cruz, o Cabugá), nos engenhos e nas vilas.
 
O 6 de abril, como estava preestabelecido, não suportou a espera. Antecipou-se para 6 de março, eclodindo a revolução um mês antes, e, por isto, perdendo a oportunidade de participação dos baianos e cariocas.
 
A república sediada em Pernambuco não ficou no sonho. Implantada, presidida por maçom, auxiliado por maçons, foi uma realidade por setenta dias e mais, sendo-lhe crudelíssima a vingança do Rei: humilhação da família pernambucana, prisões e calabouço, matança dos revolucionários inclusive sacerdotes, e mais a mutilação do território da Província. Pernambuco perdeu as planícies férteis que vieram a ser o Estado de Alagoas.
 
A revolução não se exauriu aí. O fermento das torturas fez crescer o pão-de-ló do sonho de pátria. Que se tornou realidade cinco anos depois. Em 1824, novas lutas, a Confederação do Equador. De pronto outras vinganças. Tão cruéis quanto as anteriores, e com elas completa-se o martirológio, onde se deu o sacrifício de Caneca (remanescente de 1817), a partir de quando esteve preso nos calabouços de Salvador, espingardeado, porque os carrascos temeram enforcar o Frei, mesmo chicoteados. Como os Braganças achassem pouco o sacrifico e o sangue de tantos brasileiros, outra vez esquartejaram a Província. Presentearam a Bahia com os vales fecundos da Comarca do São Francisco.
 
Nossa Pátria foi construída, porém como se percebe, jamais se pagou tão caro, como pagou Pernambuco, por demandar em nome dos brasileiros os caminhos da liberdade. Salve 6 de março de 1817 ! 
 
*) Antônio do Carmo Ferreira é jornalista profissional registro 5565/PE-MTE

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