domingo, 27 de abril de 2014

ROMÃS DA FRATERNIDADE
Ir Antônio do Carmo Ferreira*
 
Exegetas como Aslan (1), Castellani, Varoli e outros desse mesmo gabarito dão posição de destaque à simbologia da romã em seus estudos de maçonaria. Em se analisando o assunto, vê-se a procedência da colocação assumida por esses estudiosos.
A romã tornou-se minha conhecida, quando eu já estava na juventude, num tempo de ouro. Não sei bem a razão por  que na infância sequer ouvi falar a seu respeito. A mim me parece é que os pomares que abastecem a região em que fui criado, não eram povoados de romãzeiras.
Já na segunda parte dos estudos de minha formação sacerdotal, é que me familiarizei com a romã. Primeiro, lendo o “Cântico dos Cânticos”, poema de Salomão e integrante do Velho Testamento. Ali, o esposo apaixonado, cantando as belezas de sua amada, diz que a “sua face é como um pedaço de romã” (2) E auspicia para os filhos do casal – frutos do amor – características que atribui à esposa: “teus rebentos serão como um bosque de romãs com frutos encantadores”(3).
Essas primícias da romã também são exaltadas pela esposa nas respostas que dá às declarações carinhosas de seu amado, ao lhe dizer que “pela manhã, iremos para ver se as romãzeiras estão em flor e ali te darei as minhas carícias [ ... ] dar-te-ei a beber vinho perfumado, licor de minhas romãs [ ... ](4). Lindas metáforas, heim! Motes de um poema relacionados com a beleza de uma família que nascia e, sob o pálio de tanta harmonia, dava fortes sinais de exuberante crescimento.
Depois fiz outras leituras da romã ainda no Seminário, em contato com os livros de “II Crônicas” e “I Reis”, no Velho Testamento, quando elas aparecem nas malhas que envolvem o capitel das colunas que indicam o acesso ao Templo de Jerusalém, edificado durante o reinado de Salomão. Na descrição das duas colunas, encontramos, em cada uma, referência a 200 romãs, e sua utilização demonstra significado místico naquela ornamentação.
O I Livro de Reis que trata do reinado de Salomão, quando chega à construção do Templo de Jerusalém, faz uma belíssima narração das obras de bronze, que transcrevo:
“O rei Salomão mandou vir de Tiro um homem que trabalhava em bronze, Hirão, filho de uma viúva da tribo de Neftali, cujo pai era de Tiro. Hirão era um talentoso, cheio de inteligência e habilidade para fazer toda a espécie de trabalho em bronze. Apresentou-se ao rei Salomão e executou todos os seus trabalhos. Fez duas colunas de bronze: a primeira tinha dezoito côvados de altura; a sua periferia media-se com um fio de doze côvados. Tinham quatro dedos de espessura e eram ocas. A segunda coluna era semelhante a esta. Fundiu dois capitéis para os pôr no alto das colunas; um capitel tinha cinco côvados de altura, e o outro igualmente; e eram ornadas de redes de malhas e grinaldas em forma de cadeias; havia sete grinaldas para cada capitel. Dispôs em círculo ao redor de cada uma das malhas duas fileiras de romãs, para ornar cada um dos capitéis que cobriam as colunas. Os capitéis que sobremontavam as colunas no pórtico, tinham a forma de lírios, com quatro côvados de altura. Os capitéis colocados sobre as duas colunas elevavam-se acima da parte mais grossa da coluna, além da rede; em volta dos capitéis, havia duzentas romãs dispostas em círculo. Hirão levantou as colunas do pórtico do templo: a coluna direita, que chamou Jaquim, e a esquerda, que chamou Boaz. E assim foi acabada a obra das colunas”.(5) O Livro das Crônicas ou Paralipônemos também se refere ao mesmo relato.(6)
O profeta Jeremias, numa de suas antevisões, lamenta, com muita tristeza, uma cena de destruição daquela beleza arquitetônica que viria a ser, como foi, o Templo de Jerusalém. Descreve, com precisão, o roubo do bronze, muito bronze mesmo, de que eram construídas as colunas e outras partes do Templo. E aí ele fala das “romãs”. Nada naquele Templo foi colocado por acaso, nem para preencher espaço. Cada peça foi planejada para seu lugar determinado, e, como se percebe de leitura das Sagradas Escrituras, em cada uma havia uma mensagem de misticismo. O Templo era a casa de Deus e as “romãs” estavam lá. (Ler Jeremias 52, 22).
Todavia a romã mesma “ao vivo e em cores” só vim a conhecer, quando já estava adulto e no mundo dos negócios, oportunidade em que um cliente da agência de desenvolvimento da qual era funcionário, solicitou que eu abrisse uma romã que me apresentara, e retirasse dela três sementes, guardando-as na carteira de cédulas, “porque era a certeza de que durante o ano o dinheiro me seria farto”. Dizia ele: “costumes de meu inesquecível Portugal, repetido na primeira semana de janeiro de cada ano”. Fiquei surpreso ao abrir a romã. Não era uma maçã, como esperava que fosse, somente massa. A romã, ao contrário, era apenas sementes, harmoniosamente dispostas, irmanamente unidas, preenchendo aquele universo.
Ao visitar um Templo Maçônico, antes de ser iniciado na Arte Real, fui tomado pela surpresa de ver três romãs encimando aquelas colunas, entre as quais passei. Por que a preferência da romã para ornamento daquela arquitetura? E por que somente três? Perguntas que povoaram minha mente até que viessem os tempos de resposta.
A romã entre na maçonaria por intermédio das “colunas J e B” sobre as quais se encontram, sendo que “muito importantes vêm a ser os significados” (7), mesmo que não sejam tantas como na narração da Bíblia, quatrocentas ao todo, porém como sugere Varoli que “para o simbolismo maçônico bastam três romãs no capitel de cada coluna”(8).
Segundo a Ordem, a Loja que é um conjunto de maçons, podendo ser também o local onde os mesmos se reúnem, tem a dimensão da Terra. Enquanto “cada romã representa a Loja e sua universalidade. As sementes representam os maçons”.(9) A união como essas sementes se encontram, quais irmãs, é o simbolismo de uma família unida e solidária que deve reinar no seio das Lojas. O simbolismo da Loja-Romã-Universo lembra que essa família unida e solidária deverá ser oferecida sempre como “o exemplo de fraternidade” a ser seguido não somente pelos maçons, senão também “por toda a humanidade” (10).
O mestre Varoli ainda chama a atenção dos maçons para o caráter representativo ou a “força” que advém desta “união” – estado em que se encontram as sementes. O exegeta maçônico se reporta ao “feixe de Esopo, fábula cuja moral é a de que podemos quebrar facilmente uma acha, mas não um feixe de lenha” (11).
O professor Castellani, PhD da maçonaria brasileira, oferece uma brilhante interpretação para o simbolismo das romãs, colocadas nas colunas do pórtico do Templo maçônico. A exegese daquele mestre está nas seguintes palavras que ao mesmo tempo pregam a harmonia entre os maçons e vergastam os que, por questões pessoais e subalternas, tentam inocular o vírus do desentendimento entre Lojas e Potências: “os grãos reunidos em grupo, que é separado de outros grupos por uma tênue película, mostram também, que embora divididos em Obediências e países, todos os Maçons fazem parte do mesmo Corpo, simbolizado pela romã inteira”(12).
Retornando aos estudos do mestre Varoli, encontramos mais esta interpretação que tem tudo a ver com o esforço que o maçom deve desenvolver, no sentido de que a família maçônica não pare de crescer, porque a meta é dar-lhe a dimensão da humanidade. O evangelho, segundo Mateus, toca neste assunto, quando ele diz: “a messe é grande, mas os operários ainda são poucos” (13), quer dizer, com esse AINDA, que teremos de nos esforçar para que a nossa família cresça, a fim de que aos muitos possamos honrar o compromisso da Ordem de “tornar feliz a humanidade”.
O entendimento de Varoli é que “como as romãs cotêm um grande número de sementes, devem sugerir ao maçom fertilidade e abundância, no sentido de disseminar a maçonaria em todo o mundo”.(14).
As romãs estão ali sobre as colunas, três em cada uma. Do lado esquerdo e do lado direito da porta de acesso ao Templo, que ultrapassamos todas vez que vamos às reuniões. Vemo-las antes de adentrar o Templo. Então recorramos a esse tempo de espera, para fazer breve reflexão a respeito do seu significado, porque foi para isso que elas foram colocadas naquele local. A harmonia, o espírito de união, a paz, o desejo de trabalhar pela Ordem e o compromisso de fazer desta o instrumento de amor (anagrama de romã) ao próximo, o maçom sabe disto, são os deveres que nos levam ao Templo. Não se deve ir ao Templo para ser expectador. Isto, nunca. Maçom deverá ser sinônimo de ator, de líder, de condutor. Maçom não está na platéia. Seu destino e o palco. Maçom é um construtor. Então refletir sobre o simbolismo das romãs é começar o cumprimento destes deveres.
Recursos bibliográficos:
01) Nicola Aslan, em Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbolismo, Vol  IV, pág  
       1001. Editora A Trolha, Londrina/PR.
02) Cântico 4, 3
03) Cântico 4, 13
04) Cântico 7, 13 e 8,2
05) I Reis 7, 13-21
06) II Crônicas 3,17 e 4,12-13
07) Theobaldo Varoli Filho, em Curso de Maçonaria Simbólica, I Tomo, pág 263, Editora A
       Gazeta Maçônica, São Paulo
08) Idem, idem
09) Idem, idem
10) Idem, idem
11) Idem, idem
12) José Castellani, em Dicionário Etimológico Maçônico, Vol PQRS pág 87, Editora A Trolha,
       Londrina/PR
13) Mateus 9,37
14) Theobaldo Varoli Filho, obra citada, idem.
15) Antônio do Carmo Ferreira, em A Ordem dos Construtores Sociais, Editora Artegrafi,
       Recife/PE.
 
*) M.I. CIM 1510/GOIPE
 

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